quarta-feira, agosto 19, 2015

Assessor de verdades

Assessor de verdades
Por Grazielle Araujo
Há alguns anos sou questionada sobre quais são as funções de um assessor, para que mesmo ele serve? E a cada resposta, surgem mais argumentos.
Cuidamos da imagem da empresa, do porta-voz também e até dos funcionários. Se nos preocupamos com a forma da pessoa se vestir, o que dizer da forma de se expressar! Um salve para quem investe no media training! Durante uma entrevista, cruzamos os dedos para que não tenha nenhum erro de concordância, de português, para que não olhe para câmera, resuma a entrevista para a rádio e por aí vai. E então, quando comento que fico nervosa sobre isso, tem quem diga: “Ah, mas quem fala errado é o outro, não tu. Não te grila com isso”. Pois é, mas eu super me importo. Porque tô nos bastidores, na preparação da exposição do assessorado.
E quando chega o pedido de “coloca no jornal lá”? Critério de notícia, oi? Bom relacionamento com jornalistas não quer dizer que temos o poder de conseguir espaço para notícias vazias, para beijos no ego ou coisas requentadas. Tem também quem ache que um texto publicitário se transforma em notícia. E como explicar para os amigos PPs que compram espaço com anúncios que nós conseguimos estar ali de forma espontânea, mas que para isso precisamos ter mais conteúdo? Que cada um tem o seu devido valor, mas que são coisas diferentes? Lançamento de produto só é notícia quando é abordado com algum viés, seja ele qual for. Mas dizer por dizer, não rola, tá?
Tem quem não argumente, que simplesmente diz amém, envia para uma lista de cópia oculta e cruza os dedos. Dependendo da sorte, até consegue. A velha escola de assessoria não me permite fazer isso, nem plantar mentiras. Porque é meu dever também ter o olho do leitor, o faro do repórter e a noção de noticiabilidade.
Crise? Aprendi que o silêncio é, quase sempre, a pior opção. E para a maioria dos envolvidos, é a primeira. Cara, se tu não falar, alguém vai falar por ti! E a tendência é que fale inverdades, que não esclareça o que deve ser dito e daí tá feito o estrago. Faz alguma coisa, nem que seja uma nota oficial!
Tem gente que faz parte do agrado, que diz amém para garantir o leite dos filhos no final do mês. Eu já perdi as contas de quantas vezes cometi sincericídios, colocando em risco o mamá do meu pequeno. Mas é meu dever, eu acredito. Sou eu, assessora de imprensa, que preciso deixar alguém informado, que estudei para que a comunicação seja mais assertiva e que os efeitos – tomara Deus – sejam positivos e bem vistos. Se cada um fizesse a sua parte teríamos coisas mais bacanas para ler, ouvir e assistir.
Grazielle Araujo é coordenadora de Comunicação Social do IPE (Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul).